SÃO GONÇALO – Nas ruas de São Gonçalo, um espaço cultural tem ganhado importância entre jovens rappers e poetas. A Batalha do Tanque, originalmente conhecida como Roda Cultural de São Gonçalo, surgiu em 2011 na Praça dos Ex-Combatentes, no bairro de Patronato, como uma resposta à necessidade de identificar talentos locais e enriquecer a cena cultural da cidade. Idealizada por Luã Medeiros, produtor musical, a Batalha do Tanque revelou artistas como Orochi, Azzy e Xamã e atraiu público para uma cidade carente de expressão cultural.

Inspirado na cena de batalhas de rap em Botafogo, que reunia MCs para rimas informais e movimentava a Zona Sul do Rio, Luã decidiu trazer essa ideia para São Gonçalo. Pensou logo na Praça dos Ex-Combatentes, que tem um tanque no centro, dando origem, então ao nome Batalha do Tanque. Seu objetivo, além de enriquecer a cena cultural da cidade, era proporcionar alternativas de lazer para os jovens, afastando-os das armadilhas do crime que circundavam suas vidas.

Influenciamos vários jovens que poderiam ter caído nas armadilhas do crime, uma tentação que estava literalmente à porta deles. Eles passaram a ter modelos a seguir, como artistas que se destacaram e mostraram uma perspectiva diferente da vida. Hoje, muitos dos frequentadores da Batalha estão ativos no mercado. Também percebemos um público de não artistas, como advogados e médicos, mas que seguiram seus caminhos profissionais”, ressalta Luã.

Com o crescimento do projeto, surgiu a oportunidade de lançar artistas para uma audiência mais ampla. A internet desempenhou um papel crucial, com a criação de um canal no YouTube, administrado por Felipe Gaspary, que ampliou a presença das batalhas no ambiente online e as tornou conhecidas em todo o país. A Batalha do Tanque estabeleceu sua escola e inspirou outros movimentos subsequentes como a Batalha da Aldeia, em São Paulo, a Batalha do Coliseu, na Praça da Bandeira, no Centro do Rio, e Batalha do Museu, em Brasília.

Importantes nomes do gênero surgiram na praça do Tanque, como Orochi, um rapper atualmente internacionalmente conhecido. Ele nasceu em São Gonçalo e venceu competições nacionais de rimas e agora tem sua própria gravadora. Outros artistas incluem Azzy, uma influente artista feminina, e Xamã, que viajava de Campo Grande, Zona Norte do Rio, para participar das batalhas, entre muitos outros talentos.

A Batalha do Tanque promove coragem, principalmente. É um espaço em que você tem total liberdade para rimar e expressar-se livremente, o que atrai o público. Além de Orochi, tenho amigos que ganharam títulos aqui, o que me faz acreditar que se eles conseguiram, eu também posso arriscar e ser um campeão”, compartilha Rychard Erick, de 16 anos, vencedor do Tanque há três anos.

História
A história das rodas culturais frequentemente passa por altos e baixos. A falta de apoio financeiro torna difícil a realização de eventos semanais, e a pandemia enfraqueceu a cena, pois o público não conseguiu manter a frequência. Quem explica é o idealizador da Batalha do Tanque:

No começo, comprei uma caixa de som barata e a colocava em cima de um skate, que era meu meio de transporte para a praça. Tivemos alguns apoiadores ao longo do caminho, mas nada muito duradouro. Mesmo ocupando um lugar de destaque no cenário nacional, enfrentamos preconceito relacionado às drogas associadas ao rap. Fomos expulsos das praças, nossos equipamentos foram destruídos. Sempre critiquei as autoridades, pois estávamos apenas ocupando um espaço público e fazendo arte, sem promover o uso de drogas”, relata Luã.

Após perder espaço para outras batalhas, a ideia agora é retomar seu espaço e competir em eventos de maior destaque. Com o apoio da Mainstreet, um selo de rap nacional liderado por Orochi, os eventos voltarão a acontecer, e o objetivo é recuperar a glória passada.

Foto de capa: Reprodução/Instagram @batalhadotanque.oficial

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Por Julia Faria (repórter) (Jornal Online)